quinta-feira, 19 de julho de 2007

“Dislexia: um bem necessário”

Um bem necessário sim, como diria a minha querida teacher "Maza", orientadora do mestrado.

Recentemente uma conhecida revista de circulação nacional publicou uma matéria sobre o tema “dislexia”, definida como um “distúrbio ou transtorno de aprendizagem na área da leitura, escrita e soletração” conforme Associação Brasileira de Dislexia. Segundo a fonoaudióloga (também psicopedagoga) consultada pela revista, uma pessoa disléxica pode escrever frases do tipo “O cachoco fugio. A poua voi porcurar, mas não encontorl”, ao invés de “O cachorro fugiu. A dona foi procurar, mas não encontrou”. Mas o que se pode dizer sobre tal escrita? Como refletir sobre ela? Tais erros já foram analisados, no âmbito da Lingüística, como típicos do processo de aquisição da escrita e, portanto, não são interpretados como um distúrbio, problema ou doença. Por essa razão, a chamada dislexia é um "bem necessário". As escolhas feitas pelo aprendiz da escrita têm uma via explicativa que se relaciona com as possibilidades do sistema de escrita; além disso, tais escolhas demonstram que o escrevente está aprendendo e refletindo sobre o objeto (a escrita).

A escrita da palavra “fugio”, por exemplo, é muito comum quando o aluno já conhece a forma ortográfica de determinadas palavras e sabe que a pronúncia destas é diferente; como muitas palavras que terminam em o são pronunciadas com u (Paulo, limpo, pano, menino, etc.), o aprendiz escreve todas as palavras com o som de u, no final, com a letra o.

Portanto, não adianta só dizer "isso é certo", "isso é errado" e atribuir uma doença ao que foge do esperado; escrever é uma atividade complexa e que deve ser analisada tendo em vista tal complexidade.

É claro, há crianças e adultos que apresentam uma escrita não compatível com a idade e o número de anos que passaram na escola, mas isso se deve a outras razões e não pode ser visto como um distúrbio ou patologia (veja Por que não aprendemos no passado?).

Ao invés de diagnosticar como disléxico, deve-se entender o funcionamento da escrita, saber interpretar os "erros" e intervir sobre eles; uma intervenção que vai muito além de dizer ao escrevente "escreva assim" ou "não escreva assim", isto é, que o leve a refletir/pensar sobre a própria escrita, levantar hipóteses sobre como se escreve, seja uma palavra, uma frase em relação a outra... o texto como um todo.

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